segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Cicatrizes

Já faz algum tempo que tenho esboçado o desejo de escrever algo sobre cicatrizes, eu mesmo tenho algumas e que por algum motivo me trazem breves e gostosas lembranças. Lembranças de quando era uma criança peralta e de como tive uma boa infância. Mas queria conhecer melhor essa marca que chamamos de cicatriz, a pele onde ela se instala e por que ela se torna uma hospedeira muitas vezes permanente, sei que a pele tem muitas camadas e que sua superfície é composta de partes de tecido morto, que se desprendem e se renovam o tempo inteiro, mas por que a pele se renova ou regenera, que milagre acontece depois que uma lâmina a perfura e a divide? A pele tem o mágico poder de se unir a sua outra metade, mas por algum motivo jamais apaga suas lembranças, será ela ressentida ao ponto de nos fazer lembrar a todo instante que não fomos cuidadosos o bastante com ela? Na verdade nada disso importa, o que realmente me importa é como a alma possui a mesma característica da pele e imprime em nós marcas tão profundas que por longos anos suplicamos que a outra parte se una a nós, mas parece que na alma as cicatrizes demoram um pouco mais para se fecharem.
Carrego cicatrizes profundas em minha alma, algumas eu olho e me recordo que fui forte o suficiente e que agora só tenho lembranças, outras me feriram com tal ardor, que sinto ainda sua lâmina arder meu corpo e esmagar minha alma. Essas cicatrizes nos dão a falsa ideia que jamais fecharão e isso nos causa imensa dor e depois terrível tristeza, algumas lâminas não são capazes de nos matar mas a tristeza que elas nos deixam roubaram a vida de muitos.
Conversava recentemente com uma amiga e o assunto cicatrizes foi colocado em pauta, me lembrei de uma bem recente causada por um tombo de moto e da maneira como ela foi tratada pela enfermeira. Toda cicatriz para se recuperar bem, precisa passar pelo doloroso processo de raspagem que diversas enfermeiras realizam em todos os hospitais e comigo não foi diferente. A enfermeira me informou que se nós não fizesse-mos a raspagem a ferida se fecharia mas não cicatrizaria por dentro, podendo ficar para sempre dolorida. Nesse momento eu entendi completamente a importância de se tocar na ferida e raspá-la todos os dias até que cicatrize de dentro para fora pois não basta criar uma casquinha de machucado e depois sentir para o resto da vida o amargo sabor do ressentimento e da falta de perdão. Com isso descobri que existem remédios muito eficazes para se tratar feridas da alma, o amor é o mais poderoso deles, mas antes perdoe a lâmina que te feriu, naquele momento ela estava gelada e entorpecida por um sentimento de raiva, não guarde ressentimentos ele como a raiva fere primeiro quem o sente e depois o outro.
As cicatrizes são belas marcas que por algum motivo não se separam de nós, talvez por que temos memória fraca para certos momentos e que certas coisas realmente precisam ser lembradas, não para serem remoídas mas para jamais esquecer-mos de como chegamos aqui e de quão forte somos. Admiro cicatrizes não me desfaço de nenhuma delas, quero minha alma marcada pela vida, cheia de histórias, encontros e desencontros essa é nossa vida e estamos aqui para vivê-la. Um brinde a VIDA!

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